Viver é dom divino. Por isso o fiel cristão busca na oração encontrar-se no íntimo com o Deus Criador, o Pai que se revelou no Filho e por Ele nos insuflou o seu Espírito Santo “que reza em nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26).
Em Jesus, e por Ele, o objeto de nossa oração e culto é sempre Deus. A oração cristã é sempre latrêutica ou adoração a Deus (latria). As invocações à Nossa Senhora e aos santos não têm essa essência teológica, mas derivam do ato de fé na comunhão dos santos (Credo, art. 9). As devoções marianas não são culto de adoração e sim de veneração especial (hiperdulia). Fortificam nossa união com Cristo e nos ajudam a contemplar seu mistério.
Assim, a piedade cristã foi produzindo ao longo dos séculos orações que se tornaram muito populares. Entre elas a Ave Maria, a Salve Rainha e o Rosário. A origem da Salve Rainha, prece e hino, é discutida. Há muitas pesquisas sobre os possíveis autores. Cada uma corn seus argumentos históricos. Seria até um hino de guerra da primeira Cruzada. A opinião mais sustentada atribui esta oração e cântico ao beneditino alemão Herman Contrat, em 1050. Ele nasceu com graves problemas de saúde e teve uma vida muito sofrida. No convento, compôs inúmeras antífonas e cânticos devotos. Na sua época (séc. 11), a Europa medieval passava por guerras, devastações, calamidades. É provável que a condição de saúde e o contexto social influenciaram as súplicas aflitas e esperançosas do autor da Salve Rainha, .
É certo que ela não nasceu prontinha como a conhecemos. Foi recebendo acréscimos e retoques e enfim incorporada ao Rosário, devoção hoje considerada como: “o compêndio de todo o Evangelho”. O Rosário é prece eminentemente cristológica, quer dizer, centralizada em Cristo. É Cristo que nos faz compreender Maria e não Maria que nos faz compreender a Cristo. O mistério do Filho é concretamente o mistério da Mãe. Se a devoção mariana nos leva só de modo implícito a Jesus, ela é imperfeita. A cultura moderna pode achar estranhas algumas palavras da Salve Rainha: degredados filhos de Eva; vale de lágrimas; este desterro… Mas, elas expressam a nossa profunda indigência, enquanto as súplicas: a vós bradamos, suspiramos, vossos olhos a nós volvei, mostrai-nos Jesus traduzem confiança em Maria. Na sua vida terrena ela se abandonou totalmente a Deus até nas horas mais angustiantes.
Esclarecidos por seu exemplo de fé, pedimos sua ajuda para superar uma prática religiosa acomodada na rotina ou iludida por esperanças ilusórias de resolver todas as dificuldades. No Santuário da Mãe Aparecida nosso olhar filial repousa em seu olhar misericordioso, e confiantes exclamamos: ó vida, doçura, esperança nossa: salve!
Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R.
da Revista de Aparecida